Mediunidade

domingo, 29 de março de 2009

A mediunidade é o nome atribuído pelo espiritismo a uma faculdade que permitiria a comunicação entre homens e espíritos. Dentro dessa concepção, ela se manifestaria de forma mais ou menos ostensiva em todos os indivíduos. Porém, usualmente apenas aqueles que a apresentassem num grau mais perceptível seriam chamados médiuns.
Um espírito que desejasse comunicar-se entraria em contato com a mente do médium e, por esse meio, se comunicaria oralmente (psicofonia), pela escrita (psicografia), ou ainda se fazendo visível ao médium (vidência). Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, descreve também fenômenos de ordem física, como batidas (tiptololigia), escrita direta (pneumatografia), voz direta (pneumatofonia), e ainda materializações ectoplasmáticas em que o espírito desencarnado se faz visível e até palpável aos presentes no ambiente onde ocorra o fenômeno. Outras formas de comunicação com os espíritos podem ser encontradas em O Livro dos Médiuns.

Outras designações:

Enquanto no meio espírita utiliza-se a palavra médium para designar o indivíduo que serve de instrumento de comunicação entre os homens e espíritos, outras doutrinas e correntes filosóficas utilizam termos como clarividente, intuitivo, sensitivo. No entanto, o significado desses termos é, pode ser considerado por alguns com o mesmo significado, porém cada um pode ser disguinguido como uma faculdade sensitiva diferente. Medium seria aquele que serve de elo entre o mundo em que vivem os espiritos (quarta vertical, quartal dimensão, mundo astral...) e o mundo terreno, assim este se abre para que o espirito se utilize dele. Clarividente é aquele que tem capacidade de enxergar a quarta vertical através da "terceira visão". Intuitivo é aquele que tem capacidade de sentir a cadeia dos acontecimentos e assim preve-los, assim sensitivo também se adequaria a está faculdade.

Parapsicólogos Forenses:

Os parapsicólogos forenses, também conhecidos como investigadores psíquicos (do inglês Psychic Witness), são médiuns que trabalham em conjunto com a polícia na investigação de crimes de difícil solução (inexistência de testemunhas, escassez de provas, excesso de suspeitos,...). O papel desses médiuns, segundo Sérgio Pereira Couto em artigo na revista Ciência Criminal, "consiste basicamente em captar sensações sobre o que aconteceu nos locais dos crimes e passar as informações para que os detetives tomem as devidas providências administrativas, incluindo a detenção de suspeitos para interrogatório".

Com o sucesso dos seriados em canais pagos que tratam do tema, as polícias de diversos estados americanos passaram a admitir em público o uso de médiuns em investigações onde a tecnologia mostra-se insuficiente.

O Discovery Channel elaborou um documentário para tratar desse tema, reportando as atividades de quinze investigadores psíquicos no apoio às polícias de diversos estados americanos, como a Califórnia, Ohio, a Pensilvânia, a Louisiana e o Arizona.

Sally Headding, uma respeitada clarividente americana, formada em psicologia clínica e Ph.D. pela Universidade de Berkeley (Califórnia), aponta que atualmente o principal problema da popularidade dos investigadores psíquicos nos EUA é o surgimento de uma série de falsos médiuns que se apresentam para ajudar a polícia em casos de grande repercussão. No entanto, Sally afirma que os verdadeiros médiuns dificilmente procuram a polícia, ao contrário, são convidados por esta para colaborar nas investigações.

No Brasil, o uso de médiuns em processos da Justiça é reconhecido oficialmente apenas no Estado de Pernambuco, onde a Constituição Estadual, além de legitimar o testemunho de médiuns, prevê como obrigação daquele Estado e dos seus municípios a prestação de "assistência à pessoa dotada dessa faculdade, [desde que] comprovado por profissionais especializados". Essa comprovação é justamente um mecanismo para que se tenha certeza de não se tratar de um caso de charlatanismo.

Textos psicografados por médiuns como Chico Xavier e Jorge José Santa Maria (da Sociedade Beneficente Espírita Amor e Luz, no Município de Porto Alegre) já foram incorporados a processos criminais na forma de provas documentais.

Estudos científicos:

Diversos médiuns já passaram em testes cientificamente controlados que foram replicados por diversos cientistas independentes, por exemplo as médiuns Leonora Piper e Gladys Osborne Leonard. Os resultados obtidos, por cerca de 45 anos com cada uma dessas médiuns, comprovaram de forma fortemente convincente a existência de espíritos, na perspectiva dos médicos. Piper foi tão famosa que chegou a ser citada na Enciclopédia Britânica de 1911 em dois verbetes, e ainda admitida no discurso de William James publicado pela revista Science como possuidora de poderes paranormais . Como exemplo das provas de sobrevivência obtidas pela mediunidade, segue um extrato das sessões com a sra. Piper e o reverendo e a sra. S. W. Sutton, de Atole Center, Massachussets. A sessão foi realizada a 8 de dezembro de 1893. Foi registrada por Hodgson, e os assistentes foram apresentados sob o pseudônimo de “Smith”. Um taquígrafo experiente tomou as notas. Deve ser entendido que, através de Phinuit (um dos primeiros "controles" ou "guia" da médium), fala (e por vezes gesticula) a criança-comunicador; ela não “controla” por si mesma. As anotações entre parênteses são da sra. Sutton.

Phinuit disse “... Uma criancinha está chegando perto de você...” Ele estende as mãos, como que para uma criança, e diz, para reconfortá-la: “Venha cá, querida. Não tenha medo. Venha, querida, aqui está sua mãe.” Ele descreve a criança e seus “cachinhos adoráveis”. “Onde está papai? Quero papai.” (Ele – isto é, Phinuit – toma da mesa uma medalha de prata.) “Quero isto. Quero morder.” (Ela costumava mordê-la) (Estende a mão para uma enfiada de botões.) “Depressa! Quero pôr na minha boca.” (Os botões também. Morder os botões era proibido. Ele imitou exatamente seus modos infantis.) “... Quem é Dodo?” (Seu apelido para o irmão, George.) “... Quero chamar você de Dodo. Diga a Dodo que estou contente. Não chorem por minha causa.” (Põe as mãos na garganta.) “A garganta não dói mais.” (Ela tinha sempre dores na garganta e na língua.) “Papai, fale comigo. Não pode me ver? Não estou morta, estou viva. Estou contente, com a vovó.” (Minha mãe estava morta havia muitos anos.) Phinuit diz: “Aqui estão mais duas. Uma, duas, três, aqui, - uma mais velha, outra mais jovem que Kakie.” (Correto)... A língua desta estaria seca? Ela fica me mostrando a língua. (Sua língua estava paralisada, e ela sofreu muito com isto, até o fim.) Seu nome é Katherine. (Correto.) Ela chama a si mesma de Kakie. Ela morreu no ano passado. (Correto.) “Onde está meu cavalinho?” (Eu lhe dera um cavalinho.) “Cavalinho grande, não este aqui.” (Provavelmente refere-se a um cavalo e carroça de brinquedo de que gostava.) “Papai, quero ir no cavalo (cavalgar).” (Ela pedia por isto ao longo de toda sua doença)... (Perguntei se ela lembrava qualquer coisa depois de ser trazida escada abaixo). “Eu estava tão quente, minha cabeça estava tão quente. (Correto)... Não chorem por mim, isso me deixa triste. Eleanor, quero Eleanor.” (Sua irmãzinha. Chamou muito por ela, no fim de sua doença.) “Quero meus botões. Row, row, - minha música, - cantem agora. Vou cantar com vocês. (Cantamos, e uma voz suave e criança cantou conosco): Lightly row, lightly row, O’er the merry waves to go. Smoothly glide, smoothly glide, With the ebbing tide. [Remando de leve, remando de leve Sobre as alegres ondas vamos Deslizando suave, deslizando suave Com a maré vazante.] (Phinuit pede-nos que nos calemos, e Kakie termina sozinha): Let the Wind and waters be Mingled with our melody, Sing and float, sing and float, In our little boat. [Que o vento e as águas Se misturem com a nossa melodia, Cantando e boiando, cantando e boiando, Em nosso barquinho.] ...Kakie canta: “Bye, bye, baby, bye,bye, O baby bye. Papai, cante essa comigo. (Papai e Kakie cantam. Estas duas eram as canções que ela costumava cantar.) Onde está Dinah? Quero Dinah. (Dinah era uma velha boneca de trapo preta, que não estava conosco). Quero Bagie. (Apelido que dava à sua irmã Margaret.) Quero Bagie para me trazer Dinah... Diga a Dodo, quando o encontrar, que gosto dele. Querido Dodo. Costumava marchar comigo, e me carregava (Correto).”

Num outro caso, dessa vez com a médium Gladys Osborne Leonard, o reverendo Drayton Thomas recebeu o pedido do prof. E. R. Dodds, bem conhecido crítico da evidência da imortalidade, para que tentasse um contato com um certo Frederic William Macaulay, em nome da filha deste, a sra. Lewis. Thomas compareceu a cinco sessões com a sra. Leonard. Foram feitas claras referências ao trabalho de Macauly como engenheiro hidráulico. As seguintes passagens referem-se a assuntos mais pessoais. As anotações da sra. Lewis estão entre parênteses:

Feda: Há um certo John e um Harry, ambos com ele. E Race... Rice... Riss... pode ser Reece, mas soa como Riss, e Francis. São todos nomes de pessoas associadas a ele ou que se ligaram a ele no passado, em tempos felizes. Tenho a sensação de um lar ativo e ocupado, onde ele era bem feliz. (Esta é uma passagem bem curiosa... Provavelmente o período mais feliz da vida de meu pai foi nos quatro ou cinco anos antes da guerra, quando nós, seus cinco filhos, estávamos todos na escola, e a casa se enchia com nossos amigos nos feriados. John, Harry e Francis poderiam ser três deles... Mas a passagem mais interessante é “Pode ser Reece, mas soa como Riss”... meu irmão mais velho estava na escola em Shrewsbury a ali concebeu uma espécie de veneração por um dos “Tweaks” (meninos do sexto ano) cujo nome era Rees. Ele nos escreveu sobre o rapaz várias vezes, e sempre chamava a atenção para o fato de que o nome dele se escrevia “Rees”, e não “Reece”. Nos feriados, minha irmã e eu costumávamos provoca-lo cantando “Não Reece, mas Riss”, até que meu pai nos proibiu...) Feda: Agora captei uma palavra estranha... ele teria se interessado por... banhos de alguma espécie? Ah, ele diz que eu captei a palavra certa, banhos. Está soletrando: BANHOS. Sua irmã vai entender, ele está dizendo. Não é alguma coisa comum, mas sim como algo especial. (Esta, para mim, é a coisa mais interessante que emergiu das sessões. Banhos eram sempre assunto de piada, em nossa família – meu pai sendo muito enfático sobre que a água não deve ser desperdiçada com banhos muito demorados ou deixando as torneiras pingando. É difícil explicar como parece íntimo este detalhe... A menção de banhos aqui, também me parece uma indicação do estranho humor de meu pai, característica que tem feito falta...) Feda:...Godfrey; perguntar à sua irmã se ela se lembra de alguém chamado Godfrey. Este nome é um grande elo com os velhos tempos. (O funcionário mais confiável de meu pai, que ajudou muito em pesquisa hidráulica, chamava-se William Godfrey. Esteve com meu pai por anos e lembro-me dele desde minha primeira infância...) Feda: Que foi isso? ... Peggy... Peggy... Puggy... está me dando um apelido, como Puggy, ou Peggy. Soa como um nome especial, um apelido especial, e acho que é algo que sua filha sabe... (Meu pai às vezes me chamava de “pug-nose” (“nariz achatado” ou Puggy”.)

No total, 124 itens foram dados, dos quais 51 foram classificados como certos, 12 como bons, 32 como razoáveis, 2 como maus, 22 como duvidosos, e 5 como errados. Dodds, que estimulava a realização desta experiência, observa: “Parece-me que a hipótese de fraude, influência racional de fatos conhecidos, telepatia do assistente e coincidência não podem explicar, separada ou conjuntamente, os resultados obtidos.”

O neurocientista Núbor Orlando Facure acredita ser a mediunidade um fenômeno fisiológico, universal e comum a todas as pessoas, e que pode se manifestar de diferentes maneiras. Nos estudos que realiza, busca compreender a relação entre os núcleos de base dos automatismos psico-motores e aqueles que geram o fenômeno da mediunidade. Em entrevista dada à revista Universo Espírita (N°35, Ano 3), Facure aponta que os neurônios em espelho podem ser os responsáveis pela "sintonia" que permite "sentirmos no lugar do outro". No entanto, Facure admite que isso são apenas conjecturas e que atualmente não existe comprovação científica de que o fenômeno se dê dessa forma.

Em pesquisa realizada por Frederico Leão e Francisco Lotufo, Médicos-psiquiatra da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, constatou-se uma melhora dos aspectos clínicos e comportamentais de "650 pacientes portadores de deficiências mental e múltiplas" ao submetê-los a um tratamento espiritual realizado através de reuniões mediúnicas. Como resultado do estudo, os autores sugerem a "aplicação do modelo de prática das comunicações mediúnicas como terapias complementares".

Polêmicas:

As polêmicas em torno da mediunidade baseiam-se, em grande parte, pelos argumentos apresentados por algumas religiões cristãs de que a Bíblia, supostamente, mostraria que todos os "espíritos" seriam demônios comandados por Satanás, com o simples intuito de realizar diversos tipos de "enganos". Mas esse argumento encontra contradição no próprio fato de que já foram psicografados diversos textos com ensinamentos sublimes, totalmente de acordo com os ensinamentos de Jesus, o que não condiz com as características que normalmente são atribuídas a um demônio.
Já para a Doutrina Espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si - pois esta seria fundamentada em um fenômeno natural - e sim o uso dos recursos mediúnicos para finalidades frívolas ou em proveito próprio. Condenação esta com a qual o Espiritismo inclusive concorda.

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